Microbiologia do Leite: Tipos de Bactérias, Riscos de Contaminação e Como Garantir a Segurança e Qualidade

Entenda a microbiologia do leite: tipos de bactérias, riscos de contaminação e práticas para garantir a qualidade e segurança alimentar.

 

O que é a microbiologia do leite?

O leite é um alimento altamente nutritivo, rico em carboidratos, lipídios, proteínas de alto valor biológico, sais minerais e vitaminas essenciais. Essa composição faz do leite um ambiente ideal para a proliferação de diversos microrganismos, especialmente bactérias.

Nem todas as bactérias presentes no leite são prejudiciais à saúde humana; algumas são benéficas e ajudam a proteger contra microrganismos patogênicos que podem causar doenças.

No entanto, a ausência de controle adequado da atividade microbiana pode comprometer a qualidade do leite cru, tornando-o impróprio para o consumo.

Por isso, a legislação estabelece um limite máximo de 100 mil bactérias por mililitro de leite cru, garantindo a segurança alimentar e a proteção do consumidor. Devido à sua importância nutricional, o leite e seus derivados passam por rigorosos testes microbiológicos para assegurar a qualidade e a segurança do produto final.

 

Tipos de Bactérias

Diversos tipos de bactérias podem estar presentes no leite cru, e cada grupo tem impactos distintos na qualidade, segurança e validade do produto.

Os principais grupos são:

  • Bactérias mesófilas
  • Bactérias termodúricas
  • Bactérias psicrotróficas

Além desses, também podem ser encontrados microrganismos patogênicos, coliformes e bactérias probióticas.

Compreender esses microrganismos é essencial para prevenir a contaminação do leite, evitar perdas na indústria e garantir a segurança alimentar do consumidor.

 

Bactérias Mesófilas

As bactérias mesófilas se desenvolvem com facilidade em temperaturas moderadas e são as primeiras a se multiplicarem quando o leite cru não é refrigerado corretamente após a ordenha.

Microrganismos como Lactobacillus, Streptococcus e Lactococcus são comuns nesse grupo e podem elevar rapidamente a acidez do leite, comprometendo seu valor comercial e dificultando seu uso na indústria de laticínios.

Fatores que favorecem o crescimento dessas bactérias incluem:

  • Má higienização dos equipamentos de ordenha;
  • Manuseio inadequado do leite;
  • Ausência de resfriamento imediato após a ordenha.

A melhor forma de controlar bactérias mesófilas no leite é por meio da refrigeração rápida e eficiente, mantendo o produto em baixa temperatura até a pasteurização.

 

Bactérias Termodúricas

As bactérias termodúricas são microrganismos que resistem ao processo de pasteurização devido à sua capacidade de formar esporos altamente resistentes ao calor. Esses esporos permanecem viáveis no ambiente por anos, mesmo em condições adversas.

Os principais gêneros responsáveis por essa contaminação são Clostridium e Bacillus, ambos com espécies esporuladas que dificultam o controle microbiológico do leite.

A eliminação total dessas bactérias exige tratamentos térmicos mais intensos, como o aquecimento a 120 °C por cerca de 20 minutos — temperatura muito superior à utilizada na pasteurização convencional.

A presença elevada de bactérias termodúricas no leite indica falhas recorrentes na higienização dos equipamentos, como:

  • Rachaduras em peças de borracha
  • Acúmulo de resíduos sólidos (as chamadas “pedras de leite”) nas tubulações
  • Ordenha de vacas com úberes sujos

Como sobrevivem ao tratamento térmico, essas bactérias afetam diretamente a validade do leite pasteurizado e de seus derivados, acelerando a deterioração do produto.

 

Bactérias Psicrotróficas

As bactérias psicrotróficas são microrganismos capazes de se multiplicar em temperaturas baixas, geralmente abaixo de 7 °C. Embora muitas sejam originalmente bactérias mesófilas, elas conseguem crescer lentamente durante o armazenamento refrigerado do leite cru.

Esse grupo representa um grande desafio para a indústria de laticínios, pois produz enzimas resistentes ao calor, como proteases e lipases, que permanecem ativas mesmo após a pasteurização.

Essas enzimas são responsáveis por:

  • Degradação de proteínas e gorduras do leite
  • Alterações no sabor e odor
  • Redução da vida útil do produto
  • Menor rendimento na produção de queijos
  • geleificação do leite UHT

O crescimento dessas bactérias ocorre principalmente quando o leite cru refrigerado é armazenado por longos períodos — prática comum em sistemas de coleta a granel.

Altas contagens de psicrotróficas estão associadas a:

  • Falhas na higiene durante a ordenha
  • Limpeza inadequada dos equipamentos
  • Refrigeração deficiente (temperaturas acima de 5 °C)

Embora muitas bactérias psicrotróficas não sejam patogênicas — como Pseudomonas, Aeromonas, Flavobacterium e Lactobacillus — algumas espécies podem causar doenças, como Listeria monocytogenes, Yersinia enterocolitica e Bacillus cereus, sendo responsáveis por intoxicações alimentares.

 

Microrganismo Patogénicos no Leite

O leite cru pode servir como meio de transmissão para diversos agentes patogênicos, capazes de causar doenças infecciosas em seres humanos. Entre os principais microrganismos que podem estar presentes no leite contaminado, destacam-se:

  • Salmonella spp.
  • Escherichia coli patogênica
  • Listeria monocytogenes
  • Campylobacter jejuni
  • Yersinia enterocolitica
  • Staphylococcus aureus

A maioria desses microrganismos é eliminada com o processo de pasteurização do leite, mas algumas bactérias termodúricas podem sobreviver ao tratamento térmico.

Além disso, existe o risco de contaminação pós-pasteurização, que pode ocorrer devido a:

  • Equipamentos e utensílios mal higienizados
  • Manipuladores contaminados
  • Armazenamento inadequado após o processamento

Algumas bactérias, como o Staphylococcus aureus, produzem enterotoxinas resistentes ao calor. Nestes casos, o tratamento térmico pode eliminar as células bacterianas, mas não as toxinas, que continuam ativas e representam risco à saúde.

Há ainda microrganismos virais, como o vírus da febre aftosa, que não são completamente inativados pela pasteurização. A prevenção, nesse caso, depende da vacinação dos animais.

Patógenos mais recentemente identificados no leite, como Escherichia coli O157:H7 e Listeria monocytogenes, embora responsáveis por poucos surtos, preocupam devido à gravidade das doenças que podem causar, especialmente em grupos de risco como gestantes, idosos e imunossuprimidos.

 

Coliformes no Leite

A presença de coliformes no leite cru é considerada um importante indicador de contaminação fecal. Esse grupo de bactérias inclui principalmente os gêneros:

  • Escherichia
  • Enterobacter
  • Klebsiella

Esses microrganismos são naturalmente encontrados no trato intestinal dos animais, e sua presença no leite está geralmente associada a falhas nas práticas de higiene.

Altas contagens de coliformes podem indicar:

  • Ordenha realizada com má higienização dos úberes
  • Uso de utensílios ou equipamentos contaminados
  • Emprego de água imprópria para a limpeza

Embora alguns coliformes possam ser de origem ambiental, sua presença em níveis elevados sempre serve como um sinal de alerta. Isso indica a necessidade de revisar e aprimorar as boas práticas de ordenha, manejo e sanitização.

A detecção precoce desses microrganismos contribui para garantir a qualidade do leite cru e prevenir riscos à saúde do consumidor.

 

Probióticos

Os probióticos são microrganismos benéficos que desempenham papel fundamental na manutenção da saúde intestinal e na modulação do sistema imunológico. Eles estão presentes em produtos lácteos fermentados, como iogurtes, e incluem principalmente cepas dos gêneros:

  • Lactobacillus
  • Bifidobacterium

Esses microrganismos auxiliam na digestão, facilitam a absorção de nutrientes e competem com bactérias patogênicas como Salmonella typhimurium e Escherichia coli, reduzindo sua capacidade de colonização no trato gastrointestinal.

Além disso, os probióticos promovem o aumento da produção de imunoglobulina A (IgA), fortalecendo a resposta imune adaptativa do organismo.

Estudos indicam que a presença de Lactobacillus em lactentes está associada a um menor risco de alergias alimentares na vida adulta. Já a suplementação com Bifidobacterium em recém-nascidos durante o desmame pode diminuir a colonização por Bacteroides, reduzindo a chance de reações alérgicas.

 

Conclusão

A microbiologia do leite é essencial para garantir a segurança alimentar e a qualidade dos produtos lácteos. Embora o leite seja um ambiente ideal para o crescimento de diversos microrganismos, os riscos podem ser eficazmente controlados por meio de boas práticas de higiene na produção, refrigeração adequada do leite cru e processos de pasteurização eficientes.

Além de proteger a saúde do consumidor, o conhecimento detalhado sobre a microbiologia do leite contribui para a melhoria da cadeia produtiva e para o fortalecimento da saúde pública.

 

Referências

IFope. Microbiologia: entenda o processo de microbiologia do leite. Disponível em: https://blog.ifope.com.br/microbiologia/. Acesso em: 26 ago. 2025. 

EMBRAPA. Tipos de microrganismos. Disponível em: https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/criacoes/gado_de_leite/pre-producao/qualidade-e-seguranca/qualidade/qualidade-higienica/microrganismos/tipos-de-microrganismos. Acesso em: 26 ago. 2025. 

KASVI. Bactérias no leite: quais são e que cuidados exigem na produção. Disponível em: https://kasvi.com.br/bacterias-no-leite-quais-sao-e-que-cuidados-exigem-na-producao/. Acesso em: 26 ago. 2025. 

Como os testes MilkSafe garantem a qualidade do leite e a segurança alimentar

Como os testes MilkSafe podem contribuir para o controle de antibióticos no leite?

A cultura de segurança relacionada ao leite e seus derivados não é algo novo na indústria alimentícia, pois, quando se trata de comida, a segurança é um dos principais fatores a serem considerados. Inicialmente, essa segurança estava mais voltada aos perigos biológicos. No entanto, atualmente, outros riscos têm ganhado mais destaque na indústria de lácteos, especialmente os perigos químicose físicos.

É importante destacar que o gerenciamento desses riscos ocorre em três níveis principais: o primeiro é a fazenda, onde acontece a maior parte das contaminações; em seguida, o transporte do leite, que é um ponto crítico e onde a maioria dos testes costuma ser realizada; e, por fim, o silo na indústria, onde o leite é armazenado em grandes tanques. Caso alguma irregularidade seja identificada nesse último estágio, há grandes chances de rejeição do produto.

Para enfrentar esses desafios constantes na indústria láctea, um dos nossos parceiros, a Novonesis desenvolveu a linha de testes MilkSafe™, de triagem qualitativa para detecção de antibióticos e Aflatoxina M1. Esta linha de produtos contém incubadoras portáteis, leitores portáteis e desktop, o aplicativo MilkSafe™ App para registrar os resultados dos testes, além de um web portal em nuvem para o gerenciamento eficiente dos dados.

Com essas ferramentas exclusivas, as análises possibilitam monitorar a exposição real aos antibióticos no campo, garantindo mais segurança e qualidade ao processo produtivo.

 

Testes MilkSafe:

O sistema MilkSafe™ oferece dois tipos principais de testes: MilkSafe™ e MilkSafe™ Fast.

O teste MilkSafe™ é embasado em um modelo de tira de fluxo lateral, o que viabiliza um melhor funcionamento, tornando-o mais acessível e confiável. Essa tecnologia facilita a triagem de antibióticos, tornando o processo simples e acessível. O teste é realizado em uma etapa única de incubação e pode ser interpretado visualmente ou por meio de um leitor. Essa linha cobre todos os tipos de antibióticos comumente usados, sendo aplicável em diversos cenários.

O teste MilkSafe™ oferece também duas abordagens inovadoras e muito eficientes para a detecção de antibióticos. O primeiro método é o teste rápido, que funciona à base da tecnologia imunocromatográfica com ouro coloidal, permitindo resultados rápidos e eficientes em questão de minutos. Essa metodologia é mais utilizada em lugares que necessitam de acompanhamento contínuo e que precisam de resultados rápidos. Esse teste proporciona uma solução eficaz e simples para o controle de qualidade.

O MilkSafe™ também disponibiliza um segundo método, o teste microbiológico, baseado na tecnologia de Redução do Preto Brilhante (BRT), que utiliza processos de oxirredução. Nele, são usados esporos de Geobacillus stearothermophilus, que germinam na ausência de antibióticos, e o corante preto brilhante, cuja mudança ocorre pela redução catalisada dos elétrons liberados na metabolização de nutrientes pelas bactérias. Esse método é mais confiável que os testes baseados em pH, pois evita falsos positivos causados por fatores externos como a qualidade do leite ou a presença de substâncias acidificantes, garantindo resultados mais precisos e seguros.

Essas duas tecnologias complementares asseguram que os kits MilkSafe™ atendam aos mais rigorosos padrões de segurança alimentar, com soluções que combinam precisão, confiabilidade e rapidez para o controle de qualidade do leite.

Já o teste MilkSafe™ Fast utiliza o formato cassete em uma única etapa, o que simplifica o manuseio e acelera a obtenção dos resultados. Cada teste em cassete possui um código QR exclusivo para identificar o resultado individual, garantindo rastreabilidade completa e minimizando erros no registro de dados.

 

Por que testar o leite é fundamental para garantir a segurança alimentar?

A segurança dos alimentos é uma grande preocupação em todo o mundo, especialmente na indústria de laticínios, onde a segurança e a qualidade do leite e seus derivados dependem inteiramente das condições de produção.

Um dos maiores desafios enfrentados no momento atual é a presença de resíduos de antibióticos no leite. Esses resíduos podem resultar, por exemplo, da má administração de medicamentos a vacas leiteiras para tratar infecções comuns no rebanho, como a mastite.

Além disso, a detecção de antibióticos no leite é fundamental para proteger a saúde do consumidor, pois o consumo desses resíduos pode acarretar alguns riscos à saúde humana. Eles contribuem, principalmente, para o crescimento da resistência bacteriana, o que dificulta o tratamento de infecções consideradas comuns. Esses resíduos também podem provocar reações alérgicas em indivíduos mais sensíveis, além de interferirem na microbiota intestinal. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso desordenado de antibióticos na produção animal está entre os principais fatores responsáveis pela seleção de bactérias multirresistentes, afetando tanto humanos quanto animais e resultando na redução drástica das opções de tratamento disponíveis.

Por isso, garantir que o leite esteja livre de antibióticos é essencial para proteger a saúde dos consumidores e assegurar que os produtos lácteos sejam seguros e estejam em conformidade com os rigorosos padrões de segurança alimentar estabelecidos pela legislação vigente. É muito importante ressaltar que a legislação nacional deve ser sempre consultada.

Contudo, conforme a legislação vigente, devemos destacar que a utilização desses antibióticos no gado deve ocorrer somente com prescrição e autorização veterinária, exclusivamente para fins terapêuticos ou profiláticos. Também é muito importante esclarecer que há um período de carência obrigatório, devido ao tempo necessário para que o animal elimine todos os resíduos do medicamento. O leite produzido nesse período deve ser obrigatoriamente descartado, não podendo, em hipótese alguma, ser destinado ao consumo humano.

Conforme estabelecido pela Anvisa e o MAPA, é necessário cumprir os Limites Máximos de Resíduos (LMR), que definem as porcentagens aceitáveis de cada medicamento veterinário em alimentos de origem animal. Outro ponto importante são as Instruções Normativas nº 76 e nº 77, que exigem que as indústrias de laticínios implementem um plano de qualificação, além da realização de testes contínuos para a detecção de resíduos de antibióticos.

 

Quais os benefícios dos testes MilkSafe para os produtores de leite?

O principal benefício para os produtores e consumidores está relacionado à segurança alimentar que os testes MilkSafe™ proporcionam. Como citado anteriormente, esses testes são grandes aliados na detecção de diversos perigos encontrados no leite, entre eles os antibióticos, que estão muito presentes na indústria de laticínios

Esses resíduos podem ser causados, principalmente, pela má administração do uso de antibióticos no gado leiteiro, geralmente utilizados para tratar infecções como a mastite. Os antibióticos mais comuns no tratamento da mastite bovina são a penicilina e a amoxicilina. Caso os resíduos desses medicamentos estejam presentes no leite, pessoas sensíveis a esse tipo de substância podem apresentar reações alérgicas, porque, mesmo que estejam em baixas quantidades, podem acabar desencadeando uma resposta imunológica.

A detecção desses resíduos proporciona melhor qualidade no produto, resultando em maior aproveitamento do leite pelo produtor. Isso também beneficia o consumidor, pois, ao atender aos requisitos rigorosos de segurança alimentar, o produto final apresenta mais qualidade, aumentando a confiança, satisfação e segurança alimentar do consumidor.

Além dos benefícios citados, os testes MilkSafe™, produzidos pela Novonesis, são certificados pelo Instituto de Pesquisa Agrícola de Flandes (ILVO), com sede na Bélgica, e estão em conformidade com a legislação brasileira e outros padrões regulatórios internacionais. Essa certificação garante aos produtores da indústria de laticínios e aos consumidores resultados confiáveis e válidos.

 

Referências

HALABIOTEC. Edição 161. Disponível em: https://halabiotec.com.br/edicao-161/. Acesso em: 20 out. 2025.

HALABIOTEC. Edição 168. Disponível em: https://halabiotec.com.br/edicao-168/. Acesso em: 20 out. 2025.

REHAGRO. Resíduos de antibióticos no leite: riscos, causas e como evitar. Disponível em: https://rehagro.com.br/blog/residuos-de-antibioticos-no-leite/. Acesso em: 22 out. 2025.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS). OMS recomenda que agricultores e indústria alimentar parem de usar antibióticos em animais saudáveis para evitar resistência a esses medicamentos. Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/7-11-2017-oms-recomenda-que-agricultores-e-industria-alimentar-parem-usar-antibioticos-em. Acesso em: 22 out. 2025.

MILKPOINT. Mastite clínica: conheça uma excelente forma de tratamento. Disponível em: https://www.milkpoint.com.br/empresas/novidades-parceiros/mastite-clinica-conheca-uma-excelente-forma-de-tratamento-211036/. Acesso em: 22 out. 2025.