Cauteloso, brasileiro abre mão de iogurte

Apesar dos sinais de recuperação econômica, o brasileiro continua preocupado, achando que a inflação pode subir e o desemprego, também. Por isso, ele ainda abastece a despensa com produtos básicos como açúcar, café solúvel e detergente em pó. E está aprendendo a viver sem iogurte e creme de leite, entre outros produtos. Essa cautela tem a ver com o cenário que a população desenha para os próximos seis meses.

 

“A percepção de que a inflação e o desemprego aumentarão subiu devido à queda recente na renda pessoal e à situação financeira futura”, afirma Márcia Cavallari Nunes, presidente do Ibope Inteligência. No mês passado, o Índice Nacional de Expectativa do Consumidor apurado pelo Ibope Inteligência e a Confederação Nacional da Indústria (CNI), caiu 3,1% na comparação com agosto, para 98,5 pontos. Esse recuo reverteu o crescimento observado no mês anterior e levou o indicador ao menor patamar deste ano. O brasileiro mostrou pessimismo em relação ao emprego, endividamento e à inflação. O medo do desemprego atingiu o segundo maior patamar da série histórica iniciada em 1996, a 67,7 pontos, apesar dos sinais de recuperação da produção e do emprego. “Para o consumidor, a situação financeira futura não irá melhorar”, disse a executiva do Ibope. Diante disso, o consumidor continua cauteloso quando vai ao supermercado. Pesquisa realizada pela Kantar Worldpanel, em 11,3 mil domicílios em todo o país, identificou que esse comportamento reflete um orçamento apertado.

 

“Mesmo que 2017 esteja melhor em termos de inflação, a taxa de desemprego segue elevada. Este cenário beneficia os alimentos e os produtos que são comprados com mais frequência. Por enquanto, os consumidores estão mais racionais para fazer suas compras, procurando as melhores ofertas e as embalagens mais adequadas”, afirmou Christine Pereira, diretora comercial da Kantar. Segundo ela, embora o estudo tenha sido realizado nos seis primeiros meses do ano, o retrato dos hábitos do brasileiro permanece inalterado na metade deste semestre. A pesquisa, que abrange 82% da população nas cidades com mais de 10 mil habitantes, detectou que o consumidor está aprendendo a viver sem alguns produtos como creme de leite, queijo tipo “petit suisse”, alisantes para cabelos e leite pasteurizado. Batata congelada, bebidas à base de soja, achocolatado em pó e hambúrguer estão sendo comprados com mais parcimônia.

 

 

Os produtos tiveram retração por dois semestres consecutivos e crescimento nos seis primeiros meses deste ano. No primeiro semestre, a cesta de perecíveis teve retração de 10,2% em unidades compradas e de 13,1% em toneladas, em relação a igual período do ano passado. Se forem considerados todos os produtos, o volume consumido em toneladas subiu 1,2% no semestre, na comparação anual. Neste caso, o destaque é para o impulso nas vendas de bebidas no Rio Grande do Norte, Sergipe, Alagoas e Paraíba. Os brasileiros do Norte e do Nordeste estão indo menos vezes às compras, mas lideram o volume consumido, em toneladas, no país. A diretora da Kantar explicou que esse movimento é causado pelo crescimento dos atacarejos, sobretudo no Ceará. Na região Sul também registra-se aumento da quantidade de produtos comprados, com redução na frequência às lojas. Na Grande São Paulo, houve queda de 2,1% em toneladas consumidas, enquanto as idas às lojas ficaram estáveis. A Grande Rio, por sua vez, teve recuo de 3,3%, em toneladas, mas o número de compras subiu 5,6%. Nas regiões metropolitanas, as compras de maior frequência são feitas para pequenas reposições da despensa, principalmente no Rio de Janeiro.

 


Fonte: Valor Econômico

Relatório Tetra Pak 2017 aponta para mercado online

A Tetra Pak divulgou um novo relatório, o Índice Tetra Pak de 2017, que discorre sobre a necessidade das marcas de se focarem no relacionamento online com os consumidores.

 

A empresa identificou um grupo de “Super Líderes”, que consideram como o subconjunto mais influente da comunidade de consumidores online.

 

 

Quando engajados, esse influenciadores digitais podem se tornar defensores da marca, espalhar mensagens, moldar opiniões e auxiliar a construir a confiança dos consumidores nos produtos.

 

Representando apenas 7% da população online, de acordo com o relatório, os Super Líderes são as pessoas mais sociais e ativas na internet. Mais da metade (57%) deles escreve resenhas de marcas ou produtos todas as semanas, e quase 2/3 (65%) dizem se sentir mais inclinados a fazê-lo após uma experiência positiva.

 

Ainda, mas de 3/4 (78%) esperam que as marcas respondam as suas resenhas, e dizem que a interação com as empresas melhora a opinião deles a respeito da marca (79%).

 

Alexandre Carvalho, diretor de marketing de serviços da Tetra Pak, disse que as marcas precisam ajustar as suas estratégias de comunicação e utilizar canais mais específicos, inteligentes, autênticos e conteúdos engajadores caso desejem se ajustar às oportunidades desse novo mundo.

 

Carvalho disse à Dairy Reporter que as indústrias de laticínios e bebidas precisam se conectar com os diferentes tipos de consumidores, motivo pelo qual o índice 2017 foca no métodos online de conexão com os clientes.

 

OUVINDO OS CONSUMIDORES

 

Ele disse que o relacionamento online é um tópico globalmente importante. “Também é muito oportuno, e eu suspeito que, para muitas empresas, é uma área em que ainda não se sentem confortáveis ou não sabem muito a respeito”, disse Carvalho.

 

Grandes empresas, incluindo algumas empresas de produtos lácteos, estão criando equipes de marketing digital mais experientes, ele disse.

 

“Nem todas as companhias possuem essa capacidade de integrar a maior parte dos suas equipes de marketing”

 

“As empresas estão abordando o desafio online de diferentes maneiras, a depender do tamanho de cada uma. Nós vemos muitas companhias se desenvolvendo internamente, criando laboratórios e times inteiros para ouvir a sociedade, ou para acompanhar os resultados de suas campanhas de marketing. Quando olhamos para as empresas menores, vemos que elas dependem de seus parceiros externos”.

 

GRANDES MUDANÇAS

 

Carvalho disse que a internet e as mídias sociais estão mudando rapidamente.

 

“Quando criamos esses segmentos sobre os quais falamos no relatório e a ideia dos Super Líderes, muitas companhias já entendiam sobre isso. Então elas já tinham uma boa conexão com esses influenciadores e consumidores para nos dar um feedback. Elas possuem grupos muito ativos para ouvir os consumidores”.

 

“Mas o que percebemos é que ainda não existe uma solução perfeita. Uma das melhores práticas é criação de diálogos reais com seus clientes, mesmo com aqueles que falam mal da marca”.

 

Carvalho disse que escutar os consumidores e responde-los em tempo hábil é tão importante quanto tentar dar forma à conversa.

“O que vemos no estudo é que as marcas que realmente criaram uma conversa ativa e de maneira transparente estão desenvolvendo um engajamento muito forte de seus clientes com a marca”.

 

“Ainda é um desafio para a maior parte das empresas identificar aqueles consumidores que falam positivamente sobre a marca de forma espontânea.

 

QUATRO TIPOS DE CONSUMIDOR

 

Carvalho disse que o relatório abrange quatro tipos de interação. Assim como os Super Líderes, existem os observadores, pessoas que Carvalho explicou que não são ativamente engajadas com as marcas, mas utilizam as mídias sociais.

 

Os funcionais utilizam a internet quando buscam algo específico. O quarto grupo é o dos conectores, que estão online mas não querem se relacionar com as marcas.

“Então o que você vê é uma caracterização de acordo com o tipo de comportamento. Penso que essa é uma grande oportunidade, identificando esses perfis a partir do que a empresa ouve de seus consumidores”.

 

 

MUDANÇAS NAS DESPESAS DE MARKETING

 

Os métodos tradicionais de marketing incluem o radio, a televisão e as propagandas impressas, mas Carvalho disse que isso está mudando.

 

Ele disse que, nos Estados Unidos, a proporção entre a propaganda tradicional e online está em 50/50, enquanto na Europa prevalece o marketing e propaganda tradicional, com uma proporção de 70/30.

 

“O que temos visto é que ao longo dos anos o números da propaganda online tem crescido. Mais empresas têm assumido os riscos da mídia online”.

 

“Então, por exemplo, elas alocam recursos menores nas mídias digitais para viabilizar uma maior quantidade de experimentos digitais. Nós vimos algumas grandes companhias de bebidas dizendo que colocariam 5% de seu orçamento total em técnicas de marketing digital bem pequenas e experimentais para aprender com elas”.

 

 

MÉTRICAS VIRTUAIS

 

Carvalho disse que as medidas de “likes” e “cliques” são muito importantes, bem como as taxas de conversão. “Quantas dessas pessoas que receberam e mensagem da marca estão dispostas a adquirir os produtos?”, ele disse reforçando que é importante descobrir qual é o momento certo de interagir no caminho do consumidor.

 

“Esse o grande ponto hoje em dia – quando é o momento certo para conectar com o consumidor?” As tendências apontam para a necessidade de criação de novos postos de trabalho para compreender esse momento, disse Carvalho.

 

“Nós vemos uma quantidade grande de empresas criando laboratórios digitais, novas posições com nomes diferentes, novos postos de trabalho e uma grande quantidade de conhecimentos específicos, pois muitas dessas questões ainda estão em uma grande curva de aprendizado”. Carvalho disse que uma grande estratégia hoje em dia é não pensar apenas online ou offline, mas pensar no omni-channel (Omni-Channel é uma tendência do varejo que se baseia na convergência de todos os canais utilizados por uma empresa. Trata-se da possibilidade de fazer com que o consumidor não veja diferença entre o mundo online e o offline. O Omni-Channel integra lojas físicas, virtuais, e o comprador. Dessa maneira, pode explorar todas as possibilidades de interação.) “Esse é o lugar onde o consumidor quer comprar o produto. É a ideia de que, independente de onde esteja, independente de quando seja, o produto está ali”.

 

A COMUNICAÇÃO DEVE LEVAR EM CONSIDERAÇÃO ASPECTOS LOCAIS

 

Carvalho disse que as companhias que querem aderir às vendas online também precisam estar cientes da necessidade de se considerar os gostos regionais dos consumidores.
“Penso que existe uma necessidade de adaptação a cada cultura, porque a competição aumenta ainda mais nesses canais com a globalização. Existem as nuances das culturas, então é preciso ter equipes locais capazes de adaptar os produtos a cada momento e manter esse relacionamento”. “Eu vejo que, por exemplo, em um grande fornecedor de software, existem diferentes equipes ouvindo os clientes de cada localidade. Eles não possuem um time central localizados apenas nas matrizes”.

 

OPORTUNIDADES PARA PRODUTOS LÁCTEOS

 

Carvalho disse que apesar de as vendas online ainda não representarem uma grande porção para o mercado de alimentos, esse é o futuro.

 

“No relatório é chocante quando vemos a quantidade de horas que as pessoas passam conectadas – uma média de quatro horas por dia em seus smartphones”.

 

“Então as companhias precisas tirar vantagem disso, uma vez que a indústria de alimentos representa apenas 2 a 3% das vendas. Espera-se um crescimento de 10% nos próximos seis anos, mas esse é um canal em que as empresas de produtos lácteos poderiam realmente desenvolver novas oportunidades”.

 

 

CRIANDO PRODUTOS ONLINE

 

Porém, Carvalho disse que algumas empresas estão combatendo as vendas online.

 

“Grandes empresas de bebidas, como , por exemplo, a Coca-cola, estão criando seus próprios canais de vendas de produtos diretamente com os consumidores, criando um novo relacionamento, como a customização de produtos. Mais é muito, muito pequeno”.

 

Porém, esse não é necessariamente o caso da China, disse Carvalho. “A China é um dos países mais avançados em termos de companhias de produtos lácteos, muitas das grandes empresas lá estão criando produtos para serem vendidos especificamente pela internet”.

 

“Eles estão criando uma especial comunidade de leite e bebidas lácteas para conectar com a comunidade apenas pelo canal online. Ele nem mesmo vendem essas produtos fora da internet”.

 

Carvalho disse que em cinco anos ele espera que haverá um grande número de vendas realizadas por startups de alimentos ou companhias que criarem novos conceitos para atingir os consumidores.

 

“Eu acredito que também veremos muitos produtos que vimos nos relatórios serem criados por demanda, uma espécie de co-criação, utilizando os Super Líderes para criarem produtos que realmente atendam diretamente às demandas dos consumidores”.

 


Fonte: Dairy Reporter

Oportunidade para os lácteos: Os produtos lácteos estão preparados para o futuro, mas somente se aproveitarmos o momento globalmente

A indústria de laticínios desempenha um papel fundamental na alimentação em todo o mundo e deve responder de forma dinâmica e com força a nível global àqueles que desafiam sua integridade nutricional e ambiental, de acordo com a Dra. Judith Bryans, presidente da Federação Internacional de Laticínios.

 

Judith Bryans, presidente da Federação Internacional de Laticínios.

 

Em palestra na Conferência Anual da Associação da Indústria de Laticínios da China, realizada em Hohhot, Mongólia Interior, a Dra. Bryans disse que o aumento da demanda por produtos lácteos em todo o mundo oferece múltiplas oportunidades que precisam ser aproveitadas.

 

De acordo com a Dra. Bryans, “o leite é uma das commodities mais produzidas e valiosas negociadas globalmente. Dia após dia, os produtos lácteos fornecem nutrição e valor, e, como tal, enriquece a vida das pessoas. Quando as Nações Unidas estabeleceram seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável como uma chamada universal para a ação, ficou claro que a indústria láctea era parte da solução em ajudar a atingir uma série desses objetivos em torno da nutrição, pessoas saudáveis, um planeta saudável, ajudando a tirar as pessoas da pobreza e da fome e capacitar as mulheres que podem, então, capacitar suas próprias famílias.

 

“Então, se somos parte da solução, devemos ter oportunidades e estar prontos e equipados para participar delas. Sabemos que a população mundial está crescendo e atingirá a marca de mais de 9 bilhões até 2050. Sabemos que a demografia mundial está mudando e que, em breve, teremos no mundo uma quantidade maior de pessoas idosas do que o número de novos nascimentos. Sabemos que, à medida que as pessoas prosperam, seu desejo de consumir produtos lácteos aumenta.

 

“Os produtos lácteos têm um importante papel no atendimento dessas necessidades, se tivermos os produtos e ingredientes certos e se as pessoas entenderem os benefícios destes produtos”. Para nos adequarmos ao futuro, precisamos continuar sendo inovadores e garantir que tenhamos os produtos certos disponíveis e que sejam culturalmente aceitáveis, nutritivos, seguros, sustentáveis e acessíveis, além de serem entregues de forma a tornarem-se relevantes para a vida de nossos consumidores. Isso variará de país para país, continente para continente. Nunca devemos ser condescendentes e nos esquecermos de dizer aos consumidores por que somos importante para eles e para o mundo”.

 

“Os produtos lácteos têm sido reconhecidos pela capacidade de prover uma nutrição de alta qualidade, mas o setor está sendo atacado por grupos anti-lácteos e defensores de alternativas baseadas em produtos vegetais. Nossas credenciais ambientais também estão sendo questionadas. Como setor, sabemos que temos um motivo forte para expormos aos formuladores de políticas o motivo pelo qual as fazendas de laticínios e os produtos lácteos devem ser parte integrante da alimentação do mundo e ajudar a atender os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis ​​das Nações Unidas. É essencial que façamos isso em todas as oportunidades”.

 

A Dra. Bryans também disse à conferência que há otimismo nos mercados mundiais de lácteos no momento, mas a ressalva é que os mercados de laticínios sempre experimentaram uma volatilidade cíclica. Isso pode ter efeitos profundos sobre os produtores e processadores de leite.

 

Ela acrescentou: “Precisamos continuar desenvolvendo uma série de ferramentas para ajudar nossos produtores de leite nos períodos difíceis”.

 

 

Fonte: The Dairy Site

Indústria quer que governo compre R$ 1,6 bi em leite

Laticínios brasileiros querem medidas do governo para enxugar o mercado e aliviar a pressão sobre os preços internos de leite e derivados. Representantes do setor reclamam de sobreoferta e da concorrência com o produto importado, mas competitivo e mais barato. A indústria de lácteos pede que o governo compre 50 mil toneladas de leite em pó e 400 milhões de litros de UHT, que poderiam ter como destino a merenda escolar e programas sociais. Lideranças disseram a Globo Rural não ter recebido uma resposta de Brasília.

 

Além das compras governamentais, laticínios brasileiros defendem mais restrições às importações. O Ministério da Agricultura apoia a medida, sobre a qual a decisão passa pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

 

“A ideia é de que o governo faça uma compra imediata ou pelo menos dê uma sinalização ao mercado”, resume o secretário executivo do Sindicato dos Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat), Darlan Palharini. A conta apresentada pelo setor ao governo não é pequena. A considerar os volumes propostos e os preços de referência utilizados para reivindicar as aquisições oficiais – R$ 14,30 o quilo de leite em pó e R$ 2,21 o litro do UHT – o valor fica perto de R$ 1,6 bilhão. “Esse seria o mundo perfeito”, diz o representante dos laticínios gaúchos. “Se for olhar isoladamente, é um valor considerável, mas, dividindo por Estado, não é nada assustador”, argumenta.

 

No início deste mês, lideranças da indústria se reuniram com ministros e representantes de órgãos do governo federal. A Casa Civil delegou aos Ministérios do Desenvolvimento Social (MDS) e da Agricultura (Mapa) a análise da situação. Entre o que quer o setor e o que talvez seja possível, a distância pode ser grande. Às voltas com o ajuste das suas próprias contas e com a necessidade de promover a retomada da atividade econômica, a dificuldade maior é exatamente de onde tirar o dinheiro nas atuais condições. Não há prazo para tomar uma decisão.

 

“A proposta do setor ficou para os ministérios. A questão é como resolver. É um valor bem alto, uma questão de alto vulto, tem que tratar com responsabilidade”, diz o secretário nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social, Caio Rocha. Em Goiás, a preocupação é que uma eventual aquisição por parte do governo seja limitada a poucos fornecedores. Alfredo Luiz Correia, diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Estado (Sindileite), defende que médios e grandes produtores possam também participar. “O governo tem que entrar para regular o mercado porque o problema é nacional, não só do produtor familiar. A aquisição tem que ser feita de produtores de todos os tamanhos”, diz Correia, afirmando esse assunto ainda está em debate entre representantes do setor.

 

Mas o Ministério da Agricultura é taxativo. O secretário de Política Agrícola, Neri Geller, avalia ser possível executar as compras apenas no âmbito dos programas sociais. O governo não tem estrutura para estocar grandes volumes de leite e derivados. “Não há como fazer isso. Mesmo se for leite em pó, como vamos fazer a manutenção disso? Agora, o mecanismo do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e aquisição para distribuição, estamos trabalhando o orçamento. Vamos fazer o que for factível”, diz.

 

Importações

Diante do excedente interno que pressiona os preços, a opção mais viável é limitar importações, pelo menos na visão do Ministério da Agricultura. Para Neri Geller, a concorrência com o produto do exterior é o principal problema a ser atacado para tentar reequilibrar o quadro de oferta e demanda do setor lácteo brasileiro. Uma medida neste sentido também atenderia a demanda dos laticínios. A indústria reclama, principalmente, da entrada do produto do Uruguai. Mais competitivo, o leite em pó do país vizinho chega a valores mais baixos, impondo uma paridade ao produto nacional.

 

Representantes dos laticínios dizem que esse movimento acontece mesmo quando as importações diminuem, como vem ocorrendo neste ano. No primeiro semestre, o Brasil comprou do Uruguai 17,9 mil toneladas de leite em pó. Entre janeiro e junho do ano passado, foram 30,3 mil toneladas. Palharini, do Rio Grande do Sul, explica que o leite em pó uruguaio é comprado atualmente a R$ 10,50 o quilo. O brasileiro custa em torno de R$ 12. Meses atrás, a cotação interna estava superior a R$ 14 o quilo. “O que chama a atenção é que as importações de leite em pó vem caindo, mas de outros derivados, como queijo e soro, estão aumentando”, preocupa-se o secretário executivo do Sindilat do Rio Grande do Sul.

 

Ele defende o estabelecimento de uma cota de importação de todos os derivados fornecidos pelo Uruguai. Uma eventual sanção seria mais rigorosa do que a aplicada à Argentina, cujo limite vale só para o leite em pó. Havendo sucesso com os uruguaios, diz ele, a ideia seria retomar a discussão e elevar as restrições também aos argentinos. O secretário de Política Agrícola, Neri Geller, reforça tese já defendida pelo próprio ministro Blairo Maggi. Entende que o leite deve ser retirado da pauta do Mercosul. “Não é vedar a importação, mas criar mecanismos para a concorrência não ser desleal. Temos conversado porque o problema do leite é grave e não podemos desarticular o setor porque recuperar é muito difícil.” A discussão passa pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), que chegou a propor a criação de um grupo de trabalho para tratar do assunto, inclusive, com o Uruguai. Procurado, o MDIC não deu uma resposta até a conclusão desta reportagem.

 

Fonte: Globo Rural

Fotolia_104140802_M

O que está acontecendo no mercado brasileiro?

Dentre as diferentes variáveis que influenciam o mercado lácteo brasileiro, a produção nacional de leite é, provavelmente, a que mais diferença vem fazendo este ano.

Enquanto que em 2015 e 2016 a produção caiu, respectivamente, 2,8% e 3,7% (depois de 20 anos de crescimento ininterrupto!), os números preliminares deste ano mostram um aumento significativo dos volumes produzidos. Este aumento da oferta pode ser observado pela evolução dos volumes de produção dos participantes do MilkPoint Radar, aplicativo gratuito de compartilhamento de informações entre produtores de leite e consultores.

O crescimento da produção de junho em relação a maio foi de 6,4% e, no fornecimento de julho, o cenário indica também, crescimento de 5,7% nos volumes de produção em relação ao mês anterior. É possível notar, no gráfico 1, que estes valores seguem muito superiores à média histórica reportada pelo IBGE (de 1997 a 2016).

Gráfico 1. Variação de oferta entre os meses – MilkPoint Radar x IBGE (média histórica). Fonte: elaborado pelo MilkPoint Radar, com base em dados do MilkPoint Radar e IBGE.

Outro dado que chama atenção é o crescimento segundo o Índice de Captação – ICAP, apurado mensalmente pelo Cepea. Segundo este indicador, o crescimento acumulado dos volumes de leite captados pelas empresas pesquisadas é de 6,2% entre janeiro e julho deste ano em relação ao mesmo período de 2016. Chama a atenção a aceleração do crescimento dos volumes, chegando, no mês de julho deste ano, a um crescimento de 14,1% em relação ao índice de julho/2016 (gráfico 2).

Gráfico 2. Evolução do ICAP/Cepea – 2017 vs. 2016. Fonte: elaborado pelo MilkPoint Mercado, com base em dados do Cepea.

Considerando que, de janeiro a julho de 2016 a produção formal de leite brasileira (segundo aferição da Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE) foi de 12,9 bilhões de litros de leite, um crescimento de 6,2% nestes volumes em 2017 (conforme este sinalizado pela variação do ICAP) significaria cerca de 800 milhões de litros a mais no mercado. É importante informar, no entanto, que os dados oficiais do IBGE referentes a produção de leite no segundo trimestre de 2017 serão divulgados no próximo dia 14/09 (historicamente, o ICAP tem uma correlação com o índice oficial do IBGE da ordem de 89%).

Para o Diretor de Agropecuária da Aurora Alimentos, Marcos Antônio Zordan, o excesso de produção de leite vem preocupando o setor leiteiro de Santa Catarina. No último fim de semana, em uma rádio catarinense, ele destacou que o setor pode entrar em crise por excesso de produção, queda no consumo e importações, o que provocaria uma super oferta e comprometeria a renda das indústrias de laticínios, fato que refletiria na baixa dos preços pagos ao produtor.

Confira o áudio abaixo com Marcos Antônio Zordan:

Do lado das importações, assunto recorrente e preocupação bastante presente nas discussões do setor, os volumes comprados pelo Brasil no exterior de janeiro a julho deste ano são, em equivalente litros de leite, 13,5% menores que as compras de 2016. Em 2016, de janeiro a julho, foram internalizados cerca de 1 bilhão de litros de leite equivalente e, em 2017, este número foi de cerca de 869 milhões, um volume ainda significativo, mas cerca de 131 milhões de litros menor que no ano passado.
Do lado do consumo final, infelizmente o cenário é semelhante a 2016 e 2015.

Segundo dados da Nielsen, apresentados no Fórum MilkPoint Mercado realizado no início de agosto em Uberlândia, a queda de volumes de venda da cesta de lácteos (que agrega todos os derivados lácteos monitorados no varejo pela empresa de pesquisa) é de 4,5% no primeiro semestre deste ano em relação ao ano passado. Como todos sabemos, esta queda de consumo (e de vendas aos consumidores finais) tem grande relação com a situação de recessão da economia brasileira e com o elevado nível de desemprego, que juntos desestimulam o consumo de lácteos. Adicionalmente, vale lembrar que, nos primeiros 6 meses do ano, os preços ao consumidor para os queijos e leites em pó estavam mais altos do que em 2016, o que agrava a situação de consumo.

Neste cenário, vemos os preços caírem, já há algum tempo, no atacado (preços de venda da indústria aos canais de varejo), no mercado spot (leite vendido entre indústrias) e, mais recentemente, no varejo e ao produtor. Nessa linha, algumas redes varejistas estão realizando promoções para a venda de leite e escoamento dos produtos envolvendo várias marcas.

Nos valores pagos aos produtores de leite a queda acumulada já ultrapassa os 12 centavos por litro, observada no aplicativo MilkPoint Radar nestes últimos meses. Observe no gráfico 3 abaixo como evoluíram os indicadores de preço nos últimos 12 meses de análise.

Gráfico 3. Evolução dos indicadores de preços líquidos do MilkPoint Radar.

Fonte: MilkPoint Radar

 

A queda nos preços tem sido a realidade para a maioria dos produtores que participaram do MilkPoint Radar em agosto – cerca de 83% de nossa base, podendo ser observada em todas as faixas de produção e variando entre -5 (abaixo de 250 litros/dia) e -9 (acima de 6.000 litros/dia) centavos – gráfico 1.

Gráfico 4. Preços líquidos por faixa de produção (leite pago em agosto). Fonte: MilkPoint Radar.

O que pode trazer novidades para este cenário?

De um lado, as quedas nos preços aos produtores e a sua intensidade daqui para frente podem trazer desestimulo à produção, reduzindo o ritmo de crescimento observado até o momento – isto reduziria o crescimento da oferta interna de leite. Ao mesmo tempo, as reduções de preços ao longo da cadeia produtiva podem voltar a estimular o consumo de lácteos, bastante sensível a variações de renda e de preço.

Finalmente, a própria reação da economia brasileira pode ajudar. Segundo apuração do IBGE, a variação do PIB brasileiro no segundo trimestre deste ano (em relação ao mesmo trimestre de 2016) já deixou de ser negativa, com crescimento de 0,3%. Ainda que bastante pequeno, este crescimento do PIB já parece ter estimulado o consumo das famílias, também medido pelo IBGE, que apresentou crescimento de 0,7% no trimestre em relação ao ano passado. Seria uma luz no fim do túnel? Esperemos que sim.

Fonte: MilkPoint

Leite condensado volta a liderar exportações e mostra oportunidades ao setor

A menor demanda venezuelana por leite em pó trouxe de volta ao protagonismo das exportações brasileiras de lácteos o leite condensado. De janeiro a julho de 2017, as vendas externas do produto totalizaram 12,2 mil toneladas, volume 25% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado.

No primeiro semestre, as negociações do leite condensado representaram 51% da quantidade total comercializada. Quanto à receita, o montante foi de US$ 27,1 milhões nos primeiros sete meses do ano, 57% maior frente ao mesmo período de 2016, representando 37% do total obtida pelo Brasil com a venda internacional de lácteos. A volta do leite condensado à liderança da pauta de exportações veio também acompanhada da redução de 7,8% no volume total de lácteos embarcado e da queda de 4% da receita obtida com as exportações de janeiro a julho deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Por outro lado, a maior abertura do mercado consumidor deste produto e o maior valor agregado evidenciam oportunidades ao setor. O leite condensado brasileiro foi enviado para 25 países, sendo Arábia Saudita (25% do total do volume), Estados Unidos (18%), Trinidad e Tobago (11%) e Emirados Árabes (9%) os principais compradores. O preço médio do leite condensado exportado foi de US$ 2.214/t no período, valor 43% superior à média de janeiro a julho de 2016. A produção de leite condensado segue crescendo no Brasil. Com o processamento relativamente simples, sua fabricação é viável por meio de adaptações em indústrias de pequeno e médio porte. O lácteo é obtido a partir da desidratação do leite fluido, seguida da refrigeração ou tratamento térmico (de acordo com o fim a que se destina), sendo conservado mediante a adição de açúcar. Ainda que tenha o termo condensado no nome, não passa pelo processo de condensação (passagem do estado de vapor ao estado líquido mediante da liberação de calor). Utiliza-se, na realidade, o processo de vaporização, que consiste na conversão de um líquido em vapor por meio de aquecimento ou evaporação.

Além disso, o desenvolvimento de novas tecnologias, como as embalagens cartonadas, também favoreceu a expansão da produção e o aumento de marcas no mercado nos últimos anos. Isso porque os os custos de produção diminuíram, deixando o derivado mais acessível ao consumidor. O consumo, aliás, é um ponto importante. De acordo com pesquisa realizada pela Kantar Worldpanel em 2015, o consumo de leite condensado no Brasil se mostrou relativamente estável frente à crise econômica, uma vez que o derivado é ingrediente central no preparo culinário de doces e sobremesas populares no Brasil (como o brigadeiro e o pudim). Apostar em qualidade dentro da porteira pode ser determinante para o setor. A fabricação do leite condensado é muito sensível ao teor de sais minerais (cálcio, magnésio, fosfatos e citratos), proteínas e acidez. O desequilíbrio entre esses elementos prejudica a formação dos colóides, afetando a estabilidade do produto e sua qualidade final. Assim, um dos critérios importantes é a baixa contagem de células somáticas (CCS) da matéria-prima. Em um mercado cada vez mais competitivo, a qualidade é o fator chave: para a indústria, pode significar a expansão de seu market share, tanto no mercado doméstico quanto no internacional; para o produtor, maior receita por meio de bonificações; e para o consumidor, a certeza de adquirir um produto com maior qualidade.

Fonte: CEPEA

31082017

O aumento do preço da manteiga pode “provocar mudanças fundamentais”

O aumento dos preços da manteiga de leite, que levaram a manteiga a valores recordes em alguns mercados, pode desencadear “mudanças fundamentais no mercado” para os processadores, disse a cooperativa Arla Foods, prevendo uma contínua recuperação do mercado de lácteos.

O executivo chefe da Arla, Peder Tuborgh, denominou o rally dos valores da manteiga de leite como o “principal motor para o desenvolvimento positivo do mercado mundial de lácteos”, levando as cotações do GlobalDairyTrade recuperarem 70% em relação ao ano passado. “Pela primeira vez, a gordura de leite está mais cara do que a proteína”, com os valores da manteiga anidra superando os preços de produtos protéicos, como a caseína. O Índice geral do GlobalDairyTrade esconde as diferenças nos desempenhos dos valores da manteiga, 52% acima das cotações de 2016, e as de caseína, que caíram 6,9%.

INÍCIO DA MUDANÇA FUNDAMENTAL

“A mudança está sendo impulsionada pelos baixos ou inexistentes estoques de manteiga, a tendência de aumento do consumo, e demanda de produtos lácteos mais ricos”, disse Tuborgh. Muitos consumidores, enquanto demonizam o açúcar como potenciais riscos à saúde, retornaram às gorduras, no momento em que os estoques de manteiga estavam baixos, diante das preocupações com os preços do leite em pó desnatado, que é resultado do processo de produção de manteiga. Os preços do leite em pó desnatado caíram 11,5% no GlobalDairyTrade em relação ao ano passado, e na Europa estão muito elevados os estoques de intervenção. Se a gordura continuar subindo, “provocará mudança fundamental no mercado de laticínios, com alteração na produção e gestão de produtos”, disse Tuborgh. A Arla mesmo nos últimos anos tem focado em produtos que incluem o soro de leite, uma proteína láctea, que provou ser lucrativa, e usada em fórmulas infantis.

Fonte: Terra Viva